Prefácio -
Apoios - Referências
Venho trabalhando com a discussão sobre
materiais didáticos e sua qualidade desde 1990, enquanto ainda era professora da
Educação Básica e fui convidada a integrar a Equipe Pedagógica do então
Departamento de Ensino de Primeiro Grau da Secretaria de Estado da Educação do
Paraná (SEED-PR). Naquele ano, o Currículo Básico para a Escola Pública (PARANA,
1990a) havia sido lançado e os livros didáticos ainda eram selecionados
diretamente pelos professores a partir de exemplares encaminhados às escolas ou
até mesmo às casas dos professores.
A equipe de Ensino da SEED-PR, liderada pelas professoras Dra. Olinda
Evangelista e Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt recebia inúmeras
queixas sobre a baixa qualidade daqueles materiais e, por isso, decidiu criar
uma série cadernos para discutir o novo currículo e apontar os problemas dos
materiais didáticos. Então, foram lançados os Cadernos do Ensino Fundamental,
cujo primeiro número intitulou-se “Livro Didático: escolha inocente?” (PEREIRA;
GIOPPO, 1991) e apresentou uma série de questionamentos sobre o processo de
escolha e os materiais didáticos existentes na época. Em 1995, já como
professora da Universidade Federal do Paraná, fui convidada a integrar a
primeira equipe de avaliação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que
teve resultados alarmantes, pois dos noventa livros de ciências avaliados,
somente dez foram considerados minimamente adequados para serem inseridos no
Guia dos Livros Didáticos (BRASIL, 1996). Naquela época eu havia iniciado o
mestrado em Educação na Universidade de São Paulo e, a partir dos resultados do
PNLD, optei por redirecionar meu objeto de estudo para um dos erros conceituais
mais recorrentes entre os livros da época, que eram os procedimentos de
primeiros socorros para acidentes ofídicos e a caracterização de serpentes
peçonhentas (GIOPPO, 1999). A partir de então dediquei boa parte de minha
carreira à discussão sobre materiais didáticos, tanto na formação inicial quanto
na formação continuada de professores. Essa experiência me fez perceber a
necessidade de que os professores em formação inicial ampliassem suas
perspectivas sobre produção e análise de materiais didáticos. Assim, quando
propus um projeto para o edital 2009 do Programa de Institucional de Bolsas de
Iniciação a Docência, o PIBID, insisti veementemente na necessidade de
conduzirmos discussões sobre o processo de escrita e produção de materiais
didáticos vinculados às necessidades e realidades locais das escolas.
Este projeto iniciou-se com discussões sobre a possibilidade de as áreas de
Educação em Física, em Química e em Biologia, trabalharem de forma integrada,
mesmo antes de escrevermos a proposta para o edital. Nós, docentes da UFPR
nessas áreas, engajados na formação de professores, contatamos alguns colégios e
nos reunimos com área pedagógica daquelas instituições para levantar demandas e
interesses e só então delineamos uma proposta abrangente.
Após a redação e aprovação da proposta pela CAPES, fizemos reuniões com os
possíveis professores orientadores e, em seguida fizemos a seleção de
professores. Esses levantaram demandas mais específicas como a abordagem de
tópicos contemporâneos e de outras a dificuldades no tratamento do tema pelos
livros didáticos em uso. No entanto, ao iniciar o trabalho, o modelo de Ensino
Médio no Paraná havia mudado e separado em dois blocos de disciplinas, o que
dificultou a interação entre as áreas, uma vez que a Biologia ficou em um dos
blocos e a Física e Química em outro, portanto, os estudantes do Ensino Médio
que cursavam essas disciplinas não eram os mesmos. Em função desse descompasso
entre os blocos, desse ponto em diante os projetos caminharam separadamente.
A partir da separação involuntária, fiz a
seleção dos bolsistas entre os estudantes do curso de Ciências Biológicas. Só aí
é que as atividades começaram de fato.
Meu objetivo neste subprojeto de formação inicial de professores de biologia foi
se alterando ao longo da caminhada, mas posso dizer que o principal foi
propiciar articulações entre a formação docente na Educação em Ciências e na
Educação Estética especialmente no que tange a questão da criação de textos e
imagens que comporiam um conjunto de materiais didáticos alternativos. Com isso,
a idéia era ampliar possibilidades de discussão sobre a formação docente como
processo de subjetivação e formação das subjetividades. Para tanto propus
experiências que extrapolassem os limites da sala de aula e que permitissem
refletir sobre relações de poder e resistência que vão entremeando os processos
de criação e permitem ressignificações não somente sobre o papel do professor na
seleção e uso desses materiais, mas também sobre o processo de autoria e
pós-produção, e também o sobre o uso pelos estudantes.
Assim, a proposta centrou-se inicialmente na criação de textos que comporiam um
conjunto de materiais didáticos alternativos, mas que deveriam se constituir a
partir das demandas efetivas dos colégios. Por isso, ao mesmo tempo em que os
bolsistas buscavam aprofundamentos na temática, discutiam também aspectos
relevantes para delimitar recortes para a abordagem dos conteúdos. O primeiro
passo então foi trabalhar com produções textuais em vários estilos para que se
ampliassem possibilidades de criação isso ocorreu na forma de um curso e, ao
final os bolsistas haviam produzido várias pequenas histórias em diferentes
estilos textuais. Algumas delas foram selecionadas para serem abordadas na forma
de aventuras-solo. O desenvolvimento das aventuras foi o passo fundamental para
a etapa seguinte, de criação de pequenos jogos de Role Playing Games, ou
simplesmente RPG. As aventuras-solo e os jogos foram aplicados com estudantes do
Ensino Médio que, juntamente com seus professores, foram atores nessa
construção, auxiliando-nos a entender melhor os recortes a serem feitos, as
demandas e os interesses e desinteresses em relação ao tema. O colégio teve
papel fundamental tanto no processo de docência quando na análise crítica dessas
produções. A etapa seguinte foi longa, mas crucial: nela vi desabrochar entre
esses futuros professores um forte engajamento para a melhoria do material e uma
preocupação com a qualidade técnica e os recortes. Os materiais passaram por
avaliações técnicas e, considerando o escopo deste programa para o nível da
formação inicial de professores, percebo que os avanços foram grandes, mesmo que
ainda possamos entender que há outras inúmeras possibilidades de abordagens e
aprofundamentos das temáticas.
Além da produção da escrita, tivemos também o processo de criação visual das
aventuras-solo e RPGs, assim, um grupo de bolsistas passou a elaborar os
projetos gráficos de cada material, delineando cores, formas, fontes, e toda a
estrutura visual que comporia com o texto, gerando interações até então tênues
entre os que criaram o texto e os que desenvolveram os projetos gráficos. As
demandas, as idéias, os estilos foram constantemente negociados em discussões
nem sempre amenas, o que gerou de cada parte um amadurecimento pessoal e
profissional e uma ressiginificação da compreensão sobre o jogo de poder e
resistência na indústria cultural.
Este é um trabalho ainda em andamento e outras etapas estão previstas, como a
criação de um portal com as aventuras-solo e os RPGs e a proposta é trabalhar
com a produção de versões em inglês para esses materiais, por isso ainda há
muito caminho a frente, mas neste momento todos nós bolsistas, estudantes dos
colégios, professores supervisores, colaboradores voluntários e eu como
coordenadora, queremos dividir nossa alegria e compartilhar nossas produções
ficando abertos a todas as sugestões que contribuam para o aperfeiçoamento do
processo e dos materiais.
Não posso deixar de mencionar que no desenrolar desse trabalho contei com um
grande número de pessoas que me ajudaram em diversos momentos.
Assim, agradeço a CAPES pela aprovação do
projeto PIBID e do subprojeto Biologia; à UFPR e ao coordenador e à
vice-coordenadora do projeto, professor Dr. Eduardo Salles de Oliveira Barra e
professora Dra. Deise Cristina de Lima Picanço, pelo apoio recebido.
Agradeço também ao Edmar e à Vanessa, servidores da UFPR que secretariam esse
programa na UFPR e me ajudaram nas questões financeiras e burocráticas. Agradeço
à Giuliana Gionna Olivi Paredes, que é mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Educação em Ciências e em Matemática (PPGECM) e estuda o PIBID, mas mais do que
isso é uma espécie de “anjo” que ajuda a todos os bolsistas e me auxiliou em
inúmeras ocasiões, tendo sido meu braço direito neste projeto e, sem ela
provavelmente boa parte do que fizemos não teria sido possível. Agradeço também
à Tânia Mara Cabral, aluna do PPGECM, que estuda a relação entre Literatura e
Educação em Ciências e fez um trabalho interessante e criativo, para desencadear
o processo sensibilização para a criação dos textos. Ao Roberto Shiniti Fujii,
que inicialmente nos ensinou sobre aventuras-solo e RPG, e que fez crescer essa
faceta no projeto inicial, redirecionando nossa proposta, transformando o que
seria uma pequena porção em cerne desse trabalho e no segundo ano do projeto
passou a ser professor orientador em um dos colégios participantes. Não posso
deixar de agradecer também aos colegas Igor Vinicius Sartorato e João Rodrigo de
Almeida pela leitura atenta dos RPGs e a participação em reuniões de análise
crítica dos materiais. Agradeço aos professores orientadores Adriane de Cácia
Sarot de Camargo, Vivian Fernanda Pavesi, Aline Estima de Andrades Otto e
Roberto Shiniti Fujii e às coordenações dos Colégios Estaduais Maria Aguiar
Teixeira, Dr. Xavier da Silva, ambos em Curitiba, e Nova Esperança e Zumbi dos
Palmares, em Colombo, e o Colégio Estadual de Formação Profissional de Curitiba
que abriram suas salas de aula, cederam espaço em seus planejamentos e nos
permitiram conversar com seus estudantes, assistir às aulas e discutir as
temáticas específicas dos materiais.
Agradeço ao Daniel Marques da Cruz por ter elaborado boa parte das ilustrações
do material, refazendo-as diversas vezes para tornar cada história única e
circunscrita em um contexto. E também ao Leonardo Bettinelli, que trabalhando
atrás das cortinas, ajudou-nos a entender o software de diagramação dos livros,
e a todos os pareceristas que, de forma voluntária e “invisível”, leram
atentamente as aventuras, mais de uma vez, para analisar questões específicas ou
de cunho geral, e contribuíram com suas análises, sugestões e propostas para a
melhoria dos textos. Agradeço à Letícia França que fez a revisão linguística do
material. Finalmente agradeço profundamente àqueles bolsistas que confiaram
neste projeto e se lançaram a ele com grande energia, entusiasmo e vivacidade
escrevendo os materiais, diagramando as histórias e mais recentemente iniciando
a construção dos sítios eletrônicos que sediarão cada proposta. Sem essa equipe
fantástica nossa produção, -que tomou ares de superprodução-, teria sido
inviável. Todos nós juntos conseguimos algo maravilhoso e ímpar, mas o mais
significativo foi caminhar e crescer juntos e aprender ao longo do processo.
O meu Muito Obrigado a todos e boa Aventura!
Christiane Gioppo
Primavera de 2011.
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